1.12.10

MENTE MENTIRA


Quando comecei a escrever a resenha sobre a peça Mente Mentira, pensei, por que não transformá-la num texto com cara de artigo, abordando não só a peça, e a minha análise dela, mas também a visão que tive – viciada, já adianto – da apresentação no sentido técnico, já que sou uma jornalista com ares de atriz? Pois bem. Reescrevi.

É muito diferente assistir uma peça quando você não sabe o que há por trás dela, do que quando você já tem uma idéia do que acontece antes daquilo tudo. Você sabe que antes dali, daquela apresentação, ocorreram incessantes ensaios - erros, acertos; erros, acertos. Sabe que quando o ator fica de costas para o público é um erro; sabe que quando esquece uma fala, tem que ter jogo de cintura pra que isso passe despercebido.

Sobre a peça, o que mais marcou para mim foi que, ao longo da apresentação, não houve nenhum pico, nenhum acontecimento relevante que pudesse mudar o rumo da história ou alterar os ânimos da plateia. É como se o acontecimento principal não existisse, ou co-existisse o tempo todo. A peça é linear, calma, arrisco até dizer que é morna. Mas isto não é uma crítica negativa – a peça é boa sim, a história é interessante, te prende todo o tempo, e a interpretação dos atores comove. Tive a sensação que Fernanda Machado não estava ali, a não ser para emprestar o corpo para uma incorporação de Beth. Trejeitos, voz, olhar. E ri com o pai dela – o tom cômico da peça foi muito bem dosado, dado pelo ator Zecarlos Machado, que se apoiava nas deixas da mãe, a atriz Roza Grobman, para enfatizar a ironia de um casal já entediado.



Os irmãos também interagiram muito bem. Eram irmãos, de fato. Keli Freitas, a irmã, ficou um pouco apagada no seu papel coadjuvante, mas surpreendeu em uma cena com a mãe, a atriz Malu Valle, em que arrepiou a platéia ao descrever com detalhes que até pareciam palpáveis, a morte do pai, causada pelo irmão. Emocionante. Malvino Salvador, que era a promessa da peça, não deixou a desejar – do alto da minha pouca experiência como atriz e capacidade ainda estreita de analisar – no papel de Jake. Trouxe bastante emoção, diálogos fortes e bem colocados junto com o irmão interpretado por Augusto Zacchi que, no final, fica com a mocinha louca. Final interessante, curioso, confuso. Sam Shepard, o autor do texto original, mostrou com sua sutileza comum as mentiras na mente de cada um por entre dramas psicológicos, traumas, loucuras e comédia. Uma demorada e merecida salva de palmas fechou a apresentação.

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