Centro cultural mostra arte e cultura de quatro décadas atrás
Por Lisbeth Assis - 4 de setembro de 2006
Os anos 60 foram marcados pela direta relação das artes com a política. Duas vertentes se destacavam: de um lado, havia as tendências explicitamente participantes, que foram muitas vezes chamadas de arte engajada ou arte de protesto, pois faziam crítica ao regime militar e propunham até formas de participação política de resistência ao regime; do outro, as tendências mais experimentais que, embora também estivessem ligadas à critica do regime e ao protesto à censura e à repressão da época, o faziam de modo mais indireto, mais ligado às linguagens artísticas do que à linguagem política.
O Centro Universitário Maria Antônia apresenta o curso “Arte e cultura nos anos 60: experimentalismo e participação”, ministrado pelo professor da Faculdade de Educação da Universidade de São Paulo (USP) e doutor em filosofia Celso Favaretto, na segunda quinzena de setembro. O curso faz parte do ciclo “Fontes da Arte Contemporânea”, que já abordou temas como o expressionismo, a antiga Escola de Nova York e a arte brasileira atual.
Celso Favaretto optou por mostrar a visão artística dos anos 60, suas experiências, ações e propostas que amplificaram a atividade de vanguarda, trazendo novos processos e linguagens a partir da situação sócio-política sessentista. O curso examinará a relação que ocorreu, na ocasião, entre a produção nas artes plásticas, no cinema, na literatura, no teatro, e o contexto social e político brasileiro. “A hipótese é que ocorreu exatamente naquele período uma grande movimentação artística com uma alta experimentação de vanguarda, com muitas inovações e, na maioria dos casos, essa arte de vanguarda e essas inovações também repercutiram na maneira de falar da política na arte ou de propor participação política através da arte”, revela.
Mas qual é a relação do tema ‘anos 60’ com a vanguarda? “Aquele período é conhecido como vanguarda brasileira. Tivemos vanguarda antes no Brasil, mas aquele foi de renovação das artes, em que a produção artística brasileira esteve associada a todas as transformações artísticas do século e, principalmente, das atitudes de vanguarda e das produções de vanguarda detonadas pela ‘pop art’ americana”, explica Favaretto. “Foi um momento, no Brasil, em que todas as tendências artísticas renovadoras do século XX estiveram presentes. Mas foi de máxima intensidade das vanguardas, ou seja, de renovação e proposição do novo”, conclui.
Favaretto apresentará na primeira aula a inovação artística e a modernização cultural nas décadas de 50 e 60, seguindo pela arte e o engajamento político no início dos anos 60. Discorrerá também sobre a vanguarda e fechará o curso com o momento tropicalista da cultura brasileira, em meados de 1967.
O tropicalismo se desenvolveu por meio dos músicos baianos, o Grupo Bahia: Caetano Veloso, Gilberto Gil, Torquato Neto, Gal Costa, Nara Leão e Tom Zé, entre outros. “Está no extremo da vertente experimental, é o momento em que se repensa a maneira da arte e da cultura para formular uma idéia de Brasil, o que implicava tanto a crítica próxima do regime militar como a dos conservadorismos que ainda vigoravam na arte e na cultura brasileira”, relata. Segundo o professor, o ponto de partida do tropicalismo é articular o arcaico e o moderno, isto é, submeter os arcaísmos brasileiros culturais, sociais, políticos e artísticos a uma crítica através dos instrumentos mais avançados e mais modernos, inclusive tecnológicos.
Ainda é possível se inscrever. O CEUMA funciona para inscrições de segunda a sexta-feira, das 10h às 19h, à rua Maria Antônia, nº 294, 2º andar, no bairro de Higienópolis. O curso, que vai de 14 a 29 de setembro, custa R$ 150 e a casa trabalha com descontos especiais. Iinformações pelo telefone 3255-7182.
[matéria realizada em 4 de setembro de 2006]
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